A conversa telefônica é um gênero que permeia nosso dia a dia. Hoje com a facilidade dos celulares e suas altas tecnologias, nos comunicamos mais via telefone do que pessoalmente. O interessante são as situações que presenciamos: surpreendentes e inusitadas.
Nosso desafio era produzir uma conversa telefônica, obedecendo uma sequência específica de ações. Por esse motivo os textos apresentarão traços similares, mas também terão toques pessoais de cada autor. Esperamos que gostem! Boa leitura!
ATRASADA, DE NOVO!
- Alô?
-
Rosicleide? É você?
- Sim,
quem é?
- A Laura!
- Laura?
Que Laura?
-
Rosicleide...
- Ah!
Laurivânia! Tudo bem?
- Já disse
para você me chamar só de Laura! E é claro que não está tudo bem! Cadê você que
ainda não chegou aqui? A dona Helena tá fuzilando de tanta raiva! Me diga que
você já está chegando!
- Tô não!
- Como
não? Onde você está?
- Tô aqui
no meu barraco.
- Como
assim? A dona Helena não disse que você deveria chegar mais cedo, porque hoje
ela tem clientes importantes no consultório? Ela até te deu o dinheiro da
padaria para você trazer frios e pães frescos para o café da manhã!
- Pois é,
mas não vai dá!
- Você só
pode tá de brincadeira. Por que não vai dar?
- Por
causa do presunto!
- O que
que tem o presunto? Acabou? Não tá fresco? Qual é o problema dele?
- Num tá
muito fresco, não!
- Pega
outra coisa, então, mas vem logo para cá!
- Não posso!
O presunto tá aqui na minha porta!
- O quê?
Vai me dizer que a padaria faz entrega na sua comunidade? Isso é novidade! Se já está aí, qual é o problema então? Não
estou entendendo nada, dá pra clarear, Criatura!
- Não é o
presunto da padaria, não! Laurivânia, tem um cara mortinho na minha porta!
- O quê?
Menina, me conta, o que aconteceu? Não vai me dizer que você bateu com força no
Renivaldo de novo!
- Não! Vou
te contá o que aconteceu. Hoje acordei cedinho, abri os olhos ainda não era
cinco horas, olhei o relógio e ainda faltava meia hora, mas resolvi me levantá
antes do Renivaldo se não ele nunca mais sai do banheiro. Sabe como é homi, né?
-
Rosicleide, se concentra, num perde o foco...
- Ah,
então. Fui no banheiro escovei os dente, lavei o rosto, afinal sou pobre, mas
sou limpinha, se sabe, nunca cheguei na casa da dona Helena sem passa um
batom, vai que eu encontro seu Gianichine
no elevado, nunca se sabe...
-
Rosicleide!
- Tá bom,
tá bom! Tava terminando de seca o rosto, quando bateram na porta do barraco.
Fiquei assustada, era muito cedo. Fiquei quieta, esperano que a pessoa fosse
embora. Tudo ficou em silêncio e achei que não era nada, se sabe que a
comunidade foi pacificada no mês passado e os homi tão sempre por aí...
- Termina
logo essa história, mulher a dona Helena daqui a pouco aparece!
- Aí né,
eu saí do banheiro e fui até a porta. Coloquei a orelha na porta e não ouvi
nada, destranquei as trava bem devagarinho para não fazê barulho. Quando eu
abri a porta, Laurivânia...
- Laura,
já disse!
- Vi um
homi caído no meu capacho novinho que eu ganhei da dona Helena, aquele que ela
trouxe lá do Embu das Arte, lembra? Fiquei tão brava, menina! Olhei tudinho em
volta, os beco tava tudo vazio. Então abaixei e puis o dedo no homi pra vê se
tava dormino, achei que tava bêbado e tinha errado de barraco. Que nada, Laurivânia,
o homi tava duro que nem pau e gelado
que nem sorvete!
- Credo,
Rosicleide! Você colocou a mão num defunto?
- E eu lá
sabia que era um presunto, Laurivânia? Comecei a grita o Renivaldo! Quando ele
viu o cara ficou branco! Daí se imagina o susto dele, aquele negão fica branco
precisa de muito!
- O que
vocês fizeram?
- O
Renivaldo tento liga pros homi da polícia, mas tava sem crédito! Aliás, o dia
que Renivaldo se alembrá de colocá os crédito vai chovê presunto...
- Olha o
foco, olha o foco!
- Então nóis
foi no barraco da Shayane e ela chamo a polícia. Agora os perito tá aqui e nóis
temo que testemunhá, então não vou podê ir trabalhá...
- Tá bom,
vou tentar acalmar a dona Helena. E amanhã tenta chegar na hora, entendeu?
- Tá bom,
Laurivânia, explica pra dona Helena tudo direitinho e não esquece de falá que a
culpa foi toda do presunto!
Rosemary Gonçalves